sábado, 12 de maio de 2012

where is the love?


(...) Resolvi então abrir os olhos. Um berço, eu estava em um berço. Em volta, um papel de parede com ursinhos, do qual eu tinha uma vaga lembrança de já conhecer. Continuei olhando ao redor, era um quarto de bebe. Minhas pequenas mãos mal alcançavam meus cabelos. Onde estão minhas unhas compridas e pretas? Porque meu cabelo está tão curto, como eu faria minha tranca habitual? Quem era eu? Meu corpo não era o mesmo, pernas pequenas e gordinhas, tudo completamente infantil, diferente. Mas de alguma forma eu já tinha visto esse corpo. Fotos. Eu me lembrava de fotos, conhecia essa criatura.
Tudo aquilo fez meus olhos embaçarem, sentia lágrimas surgindo. Mas dessa vez meu choro não saiu como o normal, aquele choro silencioso e tímido, o que eu chorava tantas vezes deitada na cama, antes de dormir. Dessa vez eu dava berros estridentes, era impossível evitar, eu gritava e gritava, enquanto chorava. Qualquer um na casa, ou até na rua seria capaz de ouvir. Tentei engolir o choro, fechar a boca e enfiar a cabeça no travesseiro, como já fizera tantas vezes. Sem resultado. Angustia, medo, confusão. E eu chorava mais e mais, com berros mais altos, saindo do fundo do meu peito, como quem pede socorro.
Mamãe apareceu na porta, ela estava diferente. Estava mais... Nova? Sua fisionomia era oposta ao que eu imaginara que seria, tinha a certeza de um rosto preocupado, desesperado, mas pelo contrário, ela me olhava como quem já acostumara com aquela situação, àqueles berros e aquelas lágrimas. Eu já chorara assim tantas vezes? Busquei palavras que pudessem explica-la, pudessem pergunta-la o que estava acontecendo, mas não encontrava nenhum meio de dizer. Era como se todo aquele vocabulário bonito que eu passara a vida aprendendo sumisse da minha mente.
Como quem já realizara essa mesma atitude centenas de vezes, mamãe passou um braço por baixo de mim, e com o outro me levantou. Aquela pele quente e macia, o frescor daquele hálito e até o brilho daquele sorriso eram tão puros, sinceros. Acalmaram-me. Quem me dera esses braços de camomila tivessem calado meu choro todas as vezes que eu chorava sozinha no quarto, louca por uma solução, ou até por um fim. Eu não tinha forcas para chorar. A forma como ela me olhava, o amor que passava com seus olhos simplesmente me calou. Selaram minhas lágrimas. Era como se não houvesse mais motivos capazes de me entristecer, como se todo meu mundo, horas antes tão complicado e cheio de responsabilidades, se resumisse em um colo, aquele colo.
Seus braços me embalavam enquanto seus lábios começaram a recitar uma cantiga. Eu já a conhecia. No balanço de seu corpo meus olhos pesados não tinham forcas pra se manter abertos, até que eu só pude ouvir algumas palavras no fundo da escuridão, sendo levado por um sono profundo, aquele ninho de seus braços ainda me esquentando e aconchegando. (...)

O que fora aquilo? 
Um sonho. 


Ou será um pesadelo?

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